Perdi-te, tinha 23 anos. Perdi-te. Será essa a palavra certa? Temo que sim.
(Parece que, desde então, nunca voltei a ser a mesma)
Perdi o brilho dos teus olhos, a curva quente do teu pescoço, o enigma do teu sorriso. Perdi a alegria de me perder no teu abraço, o simples conforto do teu calor.
(Parece que, desde então, nunca voltei a ser a mesma. Mas dizem-me que também já não és mais o mesmo. Por motivos diferentes, creio)
Perdi-te e quase posso jurar que não há um dia em que não pense em ti. Na tua beleza apaixonante, na tua simpatia fácil, na tua entrega aos outros com uma devoção quase cristã, na tua busca de solidão.
De há uns dias para cá, há uma frase que não me sai da cabeça.
"Não se volta a um lugar onde se foi feliz". Pavese. É estupidamente verdade. Mas não consigo resistir. Volto constantemente aos lugares onde fui feliz e toda a dor que sinto com isso provoca-me, ao mesmo tempo, algum prazer masoquista.
Por isso, não lido bem com a angústia das memórias. Volto inúmeras vezes. Em pensamento, vagueio a tua presença. Bastava-me isso: a tua presença.
Recordo a felicidade que me enchia os pulmões, como um balão de ar. A felicidade das "simple things", lembras-te?, a felicidade de tudo.
Mas agora acho que nessa altura nunca cheguei a perceber bem como era feliz.