FALAR DE TUDO, PARA NAO FALAR DE NADA...



Não se volta a um lugar onde se foi feliz

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Perdi-te, tinha 23 anos. Perdi-te. Será essa a palavra certa? Temo que sim.

(Parece que, desde então, nunca voltei a ser a mesma)

Perdi o brilho dos teus olhos, a curva quente do teu pescoço, o enigma do teu sorriso. Perdi a alegria de me perder no teu abraço, o simples conforto do teu calor.

(Parece que, desde então, nunca voltei a ser a mesma. Mas dizem-me que também já não és mais o mesmo. Por motivos diferentes, creio)

Perdi-te e quase posso jurar que não há um dia em que não pense em ti. Na tua beleza apaixonante, na tua simpatia fácil, na tua entrega aos outros com uma devoção quase cristã, na tua busca de solidão.
De há uns dias para cá, há uma frase que não me sai da cabeça. "Não se volta a um lugar onde se foi feliz". Pavese. É estupidamente verdade. Mas não consigo resistir. Volto constantemente aos lugares onde fui feliz e toda a dor que sinto com isso provoca-me, ao mesmo tempo, algum prazer masoquista.
Por isso, não lido bem com a angústia das memórias. Volto inúmeras vezes. Em pensamento, vagueio a tua presença. Bastava-me isso: a tua presença.
Recordo a felicidade que me enchia os pulmões, como um balão de ar. A felicidade das "simple things", lembras-te?, a felicidade de tudo.
Mas agora acho que nessa altura nunca cheguei a perceber bem como era feliz.


O rochedo dos apaixonados

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Queria que estivesses aqui. Esta paz. Este silêncio. Esta liberdade que nos ajuda a esquecer o mundo em que vivemos. E as histórias que tenho para te contar. Coisas simples. Palavras fáceis, como framboesa. Ouvir o mar em concha. Contar as contas dos sonhos. Os sonhos que tenho para te dizer! Mas falta-me em coragem o que me sobra em imaginação. Faltam-me as palavras que me sobram nos sonhos. E o desejo que tenho de te abraçar? Se soubesses…



Os estados mais intensos exprimem-se através da ausência de palavras. Através do silêncio. A morte. Um orgasmo. A tristeza suprema. O cúmulo do júbilo. Sempre o silêncio.

Somos construtores de capelas imperfeitas. Brindemos ao incompleto, ao imperfeito, porque esse é o caminho da perfeição.

José Manuel Mendes



- Disseste que, para Marx, o capitalismo era uma sociedade injusta. Como definirias uma sociedade justa?
- Um filósofo moral de inspiração marxista, John Rawls, tentou dar uma definição, servindo-se deste exemplo: imagina que eras membro de um Conselho Supremo que tem de fazer todas as leis de uma sociedade futura.
- Consigo muito bem imaginar-me num Conselho desses...
- Eles têm de pensar em tudo, porque mal estiverem de acordo e tiverem subscrito todas as leis, morrem!
- Que horror!
- E, segundos mais tarde, acordam na sociedade cujas leis fizeram. O truque é o facto de não fazerem ideia de onde acordarão nessa sociedade, ou seja, qual será a sua posição nela.
- Compreendo...
- Uma sociedade destas seria uma sociedade justa. Cada um estaria entre iguais.
- E cada uma entre iguais.
- É evidente. Porque no jogo de Rawls também não saberíamos se íamos acordar como homem ou como mulher...

Jostein Gaarder


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