London 2005
lembro-me de mergulhar numa lagoa encontrada numa montanha, no alto do nada, fazia calor e doíam-me os pés e eu estava desesperada de sede, a minha garrafita acabada e não havia nada ou ninguem à volta. Questionava como sobrevivem os africanos, e a minha impaciência aumentava em desespero, amaldiçoei deus e os rouxinóis, e nada quis aceitar da vida, até que literalmente me caiu uma manga na cabeça. É verdade. Caiu-me uma manga na cabeça. Puum!!! Isto foi no Brasil há três meses. E depois fez-se luz, sabes! Abri a manga e chupei e chuchei e ali me quedei na sombra do mangal.
Há um ano atrás, algo semelhante mas um pouco mais surreal aconteceu-me. Na Índia.
Estava a tomar o pequeno almoco numa mesa instalada na praia de Agonda, em Goa. O paraíso.
Nada havia à minha frente senão a imensidão marítima, e a vasta praia deserta, os céus abertos e o calor do início de um novo dia, quando eu me senti aborrecida.
Pois é. Este aborrecimento tomou-me como uma lama pastosa, enchendo-me dos pés à cabeça. Estava mais aborrecida do que aborrecida, e irritada de aborrecida, irritada comigo por estar aborrecida, porque raio estou eu aborrecida? E amaldiçoei os deuses e os rouxinóis, quando me caiu na cabeça um peixe! Pois é... caiu-me na cabeça um peixe!!! Dos céus. Tipo milagre. Com tanta força que ate me doeu. Perdi-me de riso.
Vê lá tu, a vida tem destas coisas...
Ainda hoje me rio tremendamente da minha burrice, e da minha sorte.
Duas pauladas na cabeca às vezes é só o que a gente precisa para perceber que estamos vivos e que, morais a parte, tudo é possível.
saudades
anab.